Doação de progenitor diminui a espera

17 de abril de 2008

A responsabilidade de retirar um rim a um dador vivo fez com que só em 2006 se concretizasse a doação paternal. Comprovado o sucesso, o serviço de Nefrologia Pediátrica do Hospital Maria Pia conseguiu reduzir para menos de um ano o tempo de espera para transplante em crianças.

A doação de rins dos pais para os filhos com doenças urológicas ajudou o Hospital Maria Pia, no Porto, a reduzir para menos de um ano a lista de espera nos transplantes em crianças. Desde 2006, altura em que os especialistas desta unidade consideraram estar preparados o suficiente e em consciência para o fazer, houve seis progenitores que decidiram doar um dos seus rins, permitindo assim diminuir o tempo de espera médio por um transplante.“Deixámos de ter listas de espera de anos para agora ser de meses, nunca mais do que um ano”, confirmou ao JANEIRO o director do serviço de Nefrologia Pediátrica, Elói Pereira, que classificou a doação de um rim por parte de uma pessoa viva como “um gesto de amor supremo e genuíno”.

Em 2006, três mães doaram um rim aos filhos, enquanto em 2007 dois pais e uma mãe fizeram o mesmo, contribuindo para que todas as crianças que entram com problemas de insuficiência renal terminal – uma média de seis a oito crianças por ano – sejam transplantadas em menos de 12 meses pela equipa especializada do Hospital de Santo António, que colabora com a instituição pediátrica. Neste momento há apenas quatro crianças a fazer hemodiálise no Maria Pia – chegaram a ser 12 ao mesmo tempo – e Elói Pereira afirma que “a situação é gratificante” e “os resultados são excelentes porque há uma compatibilidade entre pais e filhos, apesar de nem sempre isso acontecer, que garante um maior sucesso da durabilidade do transplante pelo facto de ser familiar”.

Se todo o processo é favorável, por que é que só em 2006 começaram a ter dadores vivos? O responsável do serviço explicou que se trata de um transplante de “muita exigência”, com a “consciência de que se está a retirar um rim de uma pessoa saudável para aplicar noutra”. “Só retiramos o rim de uma pessoa viva se soubermos que realmente vai ter sucesso. É uma grandessíssima responsabilidade e era preciso que as equipas de transplante e nefrologia pediátrica estivessem suficientemente e consistentemente preparados para o fazer”, frisou. Para além disso, afirmou o médico ao nosso jornal, “não havia a coragem de fazer a proposta aos pais”, pelo que “era só por uma questão de insistência da parte deles”. Na época em que os médicos portugueses apresentavam ainda muitas reservas, alguns pais foram ao estrangeiro para concretizar a operação. “Acabámos por verificar que a experiência era excelente, o transplante de dador vivo para crianças deixou de ser episódico e agora os nossos resultados são dos melhores que há em comparação com outros países”, disse o director do serviço. A criança tem prioridade sobre os adultos na espera pelo rim a transplantar, algo que Elói Pereira considera “uma vantagem de direito próprio e que se respeita”, mas contribui também para que o número de transplantes em adultos nunca satisfaça a procura. “Não há crianças que esperam mais do que um ano neste hospital, mas o número de crianças é significativamente mais reduzido que o número de adultos com problemas”, ressalvou.

O Hospital Maria Pia está a comemorar os 25 anos do serviço de Nefrologia Pediátrica, que permitiu que as crianças deixassem de estar “de maneira desadequada” nos serviços de adultos. “Não fazia sentido que crianças com oito anos estivessem a fazer hemodiálise ao lado de pessoas de idade com outro tipo de problemas”, disse Elói Pereira. Para assinalar as bodas de prata do serviço será lançado o CD-ROM “De pequenino se olha pela saúde dos rins do menino”, direccionado para clínicos gerais, médicos de família e pediatras da comunidade, com orientações para uma detecção precoce, vigilância e encaminhamento da patologia do rim e aparelho urinário. A 3 e 4 de Outubro, para assinalar o primeiro tratamento com hemodiálise, haverá uma reunião anual de nefrologia pediátrica com convidados nacionais e estrangeiros, com o tema “Doenças hereditárias e rim”. No dia seguinte, actuais e antigos doentes e médicos e enfermeiros que trabalham e trabalharam no serviço farão um passeio fluvial.

Fonte: O Primeiro de Janeiro

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