Antibióticos não previnem infecções do tracto urinário em crianças

27 de março de 2008

A administração de antibióticos a crianças que sofrem de infecções recorrentes do tracto urinário não previne o seu aparecimento e pode aumentar o risco de resistência dos doentes a esses medicamentos. Um estudo publicado do “Journal of the American Medical Association” diz mesmo que a toma de antibióticos profiláticos nestas condições aumenta 7,5 vezes o risco de resistência.

Os especialistas são da opinião que os médicos devem esclarecer os pais acerca dos benefícios, mas também das desvantagens, inerentes à utilização de antibióticos para prevenir a infecção urinária recorrente nas crianças, antes de lhes prescreverem o tratamento. Alguns pediatras mostraram-se satisfeitos com a descoberta porque, dizem, poderá acabar por melhorar a prática actual. “É uma óptima notícia para nós porque muitas crianças tomam antibióticos durante demasiado tempo, podendo tornar-se resistentes, o que tem sido um problema crescente”, afirmou Fabienne Wheeler, pediatra no Centro Hospitalar Northern Westchester, em Mount Kisco, Nova Iorque.

Cerca de 3 a 7 por cento das raparigas abaixo dos 6 anos de idade, e 1 a 2 por cento dos rapazes nessa faixa etária, têm a primeira infecção do tracto urinário (ITU) por volta dos 6 anos, o que representa mais de 180 mil crianças todos os anos. A Academia Americana de Pediatria recomenda que, como parte do tratamento e diagnóstico, seja realizado um estudo imagiológico para avaliar a presença e intensidade de refluxo vesico-ureteral, já que 30 a 40 por cento das crianças com ITU apresentam uma alteração nesse refluxo. Caso se confirme a existência desta condição, por norma, é recomendado o tratamento diário com antibióticos numa tentativa de prevenir futuras ITU.

Esta nova investigação sugere que não existem provas suficientes de que a presença de refluxo vesico-ureteral represente um factor de risco das infecções urinárias recorrentes. Para levar a cabo esta pesquisa, os cientistas observaram 611 crianças, menores de seis anos de idade, que já tinham tido a primeira ITU, e 83 crianças que sofriam de infecções urinárias recorrentes. Os resultados deram a conhecer vários factores associados a um aumento de desenvolver infecções urinárias recorrentes, entre os quais o facto de ser caucasiano, que quase duplica a probabilidade; ter entre 3 e 4 anos de idade, o que triplica o risco; ter entre os 4 e os 5 anos, o que duplica 2,5 vezes o risco; ou ter um nível de refluxo vesico-ureteral entre o 4 e o 5, situação que aumenta quatro vezes a probabilidade.

Por sua vez, a ingestão de uma dose preventiva de antibióticos não foi associada a uma diminuição do risco de infecções urinárias recorrentes. Nesse sentido, Patrick H. Conway, o principal responsável pelo estudo, recomenda que os riscos e benefícios dos antibióticos sejam discutidos com as famílias para que estas “decidam se devem ser administrados antibióticos diariamente ou apenas vigiados os sintomas”. Para além disso, o especialista espera que este estudo possa ser tido em conta pela Academia Americana de Pediatria para que esta reveja as suas recomendações.

Fonte: farmacia.com.pt

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