Sabia que...? O Modelo Espanhol

14 de setembro de 2007

Já ouvimos dizer que Espanha é o país campeão na colheita de órgãos para transplante. Espanha já é mesmo considerado um modelo a seguir pela Organização Mundial de Saúde e o seu "modelo" tem vindo a ser adoptado (ou adaptado) por diversos outros países.

Este modelo permitiu que Espanha passasse de 14 dadores de órgãos (post-mortem) por milhão de habitantes para 34,6 dadores. É, de longe, o país com mais dadores de órgãos! (Portugal tem 22,2 dadores por milhão de habitantes)

Em que consiste, então, este modelo espanhol? Antes de mais, há que referir que engloba aspectos legais, económicos, políticos e médicos, todos os quais contribuem, à sua maneira, para o sucesso do sistema.

Pontos básicos que definem o modelo espanhol:

  1. Três níveis de coordenação. A organização da coordenação encontra-se estruturada em 3 níveis: nacional, regional e hospitalar.

  2. Conselho Interterritorial como organismo coordenador e de tomada de decisões. A coordenação nacional e regional devem constituir um "interface" entre os níveis puramente administrativos e os profisisonais. Todas as decisões técnicas são tomadas por consenso, numa Comissão formada pelos responsáveis da coordenação nacional e de cada uma das regiões (Conselho Interterritorial).

  3. Coordenador só a tempo parcial. O coordenador hospitalar costuma ser um médico que ocupa este lugar apenas a tempo parcial.

  4. Dependência hierárquica. O coordenador hospitalar deve trabalhar dentro do mesmo hospital e depender hierarquicamente da direcção do mesmo (não da equipa de transplante).

  5. Coordenação funcional. O coordenador deve estar vinculado funcionalmente à coordenação regional e nacional.

  6. Coordenadores oriundos de UCIs. É conveniente que os coordenadores trabalhem nas unidades de cuidados intensivos, pela maior probabilidade de implicação activa na doação de órgãos.

  7. Programa de qualidade. Os coordenadores de transplantes devem realizar um programa de qualidade de doação de órgãos, uma auditoria contínua de morte cerebral nas unidades de cuidados intensivos.

  8. A Organización Nacional de Transplantes como agência de serviços. A sede da ONT consiste numa agência de serviços, que proporciona apoio a todo o sistema. Isto implica a distribuição de órgãos, a organização dos transportes, a gestão das listas de espera, as estatísticas, a informação geral e especializada e, em geral, qualquer acção que possa contribuir para melhorar o processo de doação e transplante. O apoio que a sede e as delegações regionais prestam, é muito importante, sobretudo para os pequenos hospitais, nos quais não é possível realizar todo o processo de forma independente.

  9. Grande esforço na formação contínua. Tanto dos coordenadores como de grande parte do pessoal hospitalar, é fundamental uma formação contínua, verdadeiramente mantida no tempo, através de cursos gerais e específicos sobre cada um dos passos do processo: identificação de dadores, aspectos legais, entrevista familiar, aspectos organizativos, gestão, comunicação...

  10. Reembolso hospitalar. Seria impensável realizar a actividade de transplantes em pequenos hospitais, se não fosse através do reembolso hospitalar, por parte das respectivas administrações, que devem financiar desta forma as actividades de obtenção e transplante de órgãos.

  11. Meios de comunicação. Prestar muita atenção aos meios de comunicação, compreendendo os tempos em que se gere a informação e a forma mais útil de os atender, é vital para que se consiga uma difusão adequada, que permita melhorar o conhecimento da população sobre a doação e o transplante de órgãos. Algumas medidas importantes ao longo de vários anos têm sido a realização de reuniões periódicas com equipas de informação, cursos de formação em comunicação para coordenadores, bem como uma atitude rápida de gestão de publicidade adversa e de situações de crise.

  12. Legislação adequada. É uma condição indispensável dispor de uma legislação adequada, com uma clara definição de morte cerebral, das condições de colheita de órgãos, a ausência de motivação económica, etc.

Para saber mais, consulte o site da Organización Nacional de Transplantes.

0 comentários: