Pergunta sem resposta - Prograf em xarope

9 de abril de 2007

Como já foi referido neste blog, infelizmente a maior parte dos medicamentos não são adaptados, nem às necessidades das crianças, nem às suas especificidades. Além disso, muitos medicamentos não estão estudados em crianças, o que leva a que se desconheça os seus verdadeiros efeitos na população pediátrica, com características bem diferentes da população adulta.

No campo da transplantação, o caso do Prograf é paradigmático. O Prograf é um imunossupressor e é um dos medicamentos mais utilizados na prevenção da rejeição após o transplante (de rim, fígado ou coração). Bem sabemos que o número de doentes pediátricos que toma este medicamento deve ser muito reduzido, no entanto, será que não se justifica que em toda a Europa se comercialize, tal como nos EUA, o Prograf em forma de xarope (suspensão), como acontece com o Cellcept, por exemplo?

A prescrição do Prograf em crianças pequenas tem muitas especificidades que devem ser tidas em consideração. Primeiro, trata-se de um medicamento com potenciais efeitos secundários muito importantes, em que a toma deve ser o mais adequada possível às reais necessidades, sob pena de provocar, por exemplo, nefrotoxicidade renal (especialmente importante para os transplantados renais). Segundo, as crianças normalmente necessitam de ajustes muito pequenos, não compatíveis com as dosagens que existem em cápsulas (relembro, por exemplo, que o meu filho de 3 anos, faz muitas vezes ajustes de 0,1 mg). Por último, há sempre que lembrar a dificuldade de dar um medicamento em forma de cápsula a crianças pequenas e a crianças que muitas vezes não comem pela própria boca (também aconteceu com o meu filho).
Será que não há quem pense nas crianças e em todas estas dificuldades?

Compreendo que talvez não se justifique a introdução desta forma do medicamento apenas em Portugal, mas porque não em toda a Europa? Sei que, pelo menos em Espanha, também não existe o Prograf em xarope, mas também sei que nos EUA existe. Porquê sermos discriminados? Como podem ler no post "O dia-a-dia do Gonçalo", temos de fazer uma manipulação do Prograf, por forma a darmos uma dose aproximada à pretendida. No entanto, nunca temos a certeza absoluta da quantidade de medicamento ingerida, e depois os ajustes da medicação também nunca são certos. Para aqueles que não sabem, isto pode implicar uma monitorização muito apertada dos níveis no sangue, ou seja, análises muito frequentes, já para não falar os riscos de sobre ou sub-dosagem.

Aqui fica uma pergunta, que será colocada directamente ao Laboratório responsável pela colocação no mercado do dito medicamento, a Astellas Pharma.

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